Parte I
Parte II
5 – A missão (também conhecida como quest).
A grande missão normalmente pertence ao nosso herói/na. Os outros membros da party são meros assistentes no cumprimento da mesma. O papel importante cabe ao herói. Ele é que tem de matar o mau da fita, ele é que decide, ele é que é o”the one”, ele é que manda naquilo tudo. Está ungido pelos deuses, logo vale claramente mais que os outros membros. A missão normalmente não é matar o vilão. O que sucede é que para a missão se cumprir o vilão tem de morrer. Porquê? Porque o vilão é daquelas pessoas que se mete em frente de ambulâncias em serviço de urgência. Ou pelo menos é isso que o herói vê.
Assim, o que acontece é que o herói está ali para fazer uma cena que é precisamente o contrário da cena que o vilão quer fazer. Ora se o vilão achar por bem redecorar a sua casa com papel de parede com palmeiras azuis o herói vai achar nesse gesto hediondo causa para chegar lá e arrebentar-lhe com as paredes todas à espadada porque o acto aos seus olhos justos e puros é imoral.
Normalmente o vilão quer fazer coisas ainda mais idiotas como destruir o mundo, conquistar o mundo, vender o mundo ou até cozinhar e entregar para fora o mundo. Mas já lá vamos.
Voltando à missão. Podem escolher coisas de início aparentemente insignificantes como ajudar velhinhas a atravessar passadeiras, recuperar artefactos perdidos, resgatar criancinhas dos braços de pedófilos ou princesas dos braços de velhos babões, obviamente lacaios ou ocupantes da agenda telefónica do vilão. Assim, estas pequenas coisas acabam sempre por se revelar interligadas com a grande missão cósmica, reservada para o heroi e descambar em grandes confusões que a party do herói em conjunto consegue resolver após páginas e páginas e páginas de engonhar e doloroso auto-descobrimento.
Aliás, sugiro ainda uma técnica fantasy praticamente infalível, bastante apreciada no meio dos desenhos animados: missões personalizadas.
Cada missão dessa menores serve para um dos membros da party aprender algo sobre ele mesmo e andar com a sua vidinha para a frente. Por exemplo, o sarcástico. Numa missão qualquer envolvendo solventes, sacarose e a prisão de todos os outros membros do grupo é requerido do sexy sarcástico que os salve. Relutante, lá os salva e acaba por descobrir que afinal até gosta de pessoas mais ou menos e provar ao grupo que é melhor do que eles todos juntos e mais um pacote de pistachios. Para além de que ganha um importante trunfo que mais tarde poderá usar para atirar à cara de quem o chateie ou caso se descubra que ele anda a tirar dinheiro do fundo de maneio do grupo para comprar SG Light.
Este esquema simples mas eficaz resulta com todas as personagens secundárias.
O herói e o vilão normalmente estão ocupados demais para histórias menores de auto-descobrimento. O vilão porque anda a trabalhar no seu monólogo do mal, onde nos conta toda a sua terrível historia e o herói porque anda maluco atrás da pachacha e/ou (isto nunca se sabe) pila do interesse romântico, coisa que é sempre difícil de apanhar a meio do livro.
O vilão pode ser uma de duas coisas: irresistível ou hediondo. Feita esta escolha, devemos salientar que é invariavelmente louco. Porquê? Porque as pessoas más, seja em que género de entretenimento for, são sempre loucas e, e isto é muito importante, mais tarde ou mais cedo acabam por demonstrá-lo.
Ora o vilão irresistível tem esta “sexieza” inerente mas com os cornos apenas como acessório opcional. Não é apenas bonito mas de uma beleza paralisante e divina, qual Adónis ao cubo, que deixa toda a gente maluca. Especialmente as mulheres. Dão-se preferência a cabelos pretos ou brancos e olhos muito claros. Azuis, se ele for de olhar gélido e cruel, verdes, se ele for de olhar abrasador e destruidor.
Depois é poderoso. Não à Gandalf ou à Mr. T mas à seria!
Um poder divino que vai desde matar seres com um olhar até fazer fortuna na bolsa de valores. O homem é demais. É tudo de bom. Ou melhor, tudo de mau.
Em termos de personalidade variará consoante a vossa vontade mas usualmente diz tudo o que lhe apetece (insultar os parentes mortos do herói/na resulta muito bem) com um riso caloroso e ligeiramente malévolo ao fim de cada frase (“fon fon fon”, tal e qual). Manda em tudo o que se mexe e o que não se mexe é porque ele mandou não se mexer. É inteligente, quase sábio.
Parece ter um feitio tolerante até certo ponto mas tem a mesma aura perigosa que os gatos têm. Uma serenidade falsa que aumenta precisamente antes de te saltarem em cima e te rasgarem a fronha toda com as garras. É muito comum passar-se quando ninguém está à espera, portanto. Alguém mandou um piropo à sua prima em terceiro grau ou esqueceu-se de recarregar o seu PEZ e de repente está tudo a explodir e a arder! É preciso cuidado.
No meu entender era de valor que este género de vilão seduzisse o interesse romântico do herói, dando-se uma bela salganhada mexicana, mas não é recomendável visto dar muito trabalho do ponto de vista de desfecho e selo de garantia de castidade da gaja.
Herói que é herói não come o que, segundo ele, já foi (tão bem) mastigado por outro.
Hum, relendo aqui o escrevi até agora, soa ligeiramente pró vilão… Que estranho.
Exemplos que me ocorrem agora deste género de vilão são o Drácula ou os vilões/vilãs (Who the hell can tell the difference?!) das Navegantes da Lua.
CHESB
1 comentário:
Eu mudei. Mas foi só uma palavra aqui e ali :P Porque senão ia dar uma "ganda bolta"! XD
CHESB
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