quarta-feira, maio 16, 2007

Peixe? Num rio? Não posso!

Chegada a altura dos milagres de Fátima, chega também a altura para alguma reflexão religiosa. Pelo visto tem sido uma época religiosa ocupada para os países de língua portuguesa. O Brasil recebeu esta semana a visita do Papa para, entre outras coisas (não sendo uma delas falar do aborto! Vamos discutir problemas mas só daqueles que não fazem o menino Jesus chorar. Se a Maria pudesse ter escolhido abortar o que seria de nós?!), beatificar o primeiro santo brasileiro: o senhor Frei Galvão. Beatificação esta que, segundo os fieis brasileiros, é muito boa e vem em muito boa hora porque assegura finalmente um santo que conhece, citando uma senhora entrevistada, “ o povo brasileiro, as suas necessidades e aflições e as suas manias”. É compreensível, pensei eu. Já estava mais do que na altura de haver um embaixador brasileiro no céu! Afinal Deus não é omnisciente. Nem brasileiro. É mais tipo… um ser todo o poderoso rodeado de gente a cochichar-lhe ao ouvido. Eu também estaria feliz se finalmente tivesse lá o meu “cochichador pessoal”oficial. Isto explica também aquela expressão que as pessoas usam sobre tal santo ou a Nossa Senhora ou Jesus intervirem junto de Deus para fazer isto ou aquilo. Cunhas. Estão em todo o lado.
Outra questão interessante sobre este santo brasileiro era o veículo dos seus milagres. Pílulas. Uma espécie interessantíssima de comprimido religioso. Tirando a parte do comprimido. A cientifica pelo menos. Apesar de aquilo ter uma fórmula muito secreta que o senhor gentilmente cedeu a um grupo de freiras antes de partir para o seu novo emprego no céu. Como os pasteis de Belém. As orações devem ser escritas apenas com canetas Bic. Se forem imprimidas têm o efeito oposto e mandam também as pessoas directamente para o Inferno. O papel convém ser reciclado, porque Deus é amigo ( e autor) do ambiente. Coisas assim.
Estas pílulas pelo visto consistem em pequenos bocados de papel com orações escritas enroladinhos que a malta basicamente… engole. Forma interessante de enviar preces. Engolindo-as. Nunca tinha pensado nisso. Será que chegam mais depressa? Não será algo… nojento fazer uma prece viajar pelo nosso sistema digestivo? Ou isto é mais uma daquelas parvoíces católicas, como velas gigantes ou viagens de joelhos, que supostamente fazem Deus ouvir o que lhe pedem com mais atenção? E quando a prece vai pela sanita abaixo está então o pedido atendido? Como aquelas pulseiras do amor que quando caem de podres significa que o nosso grande amor está para chegar…
Se isto pegar moda as farmacêuticas em todo o mundo correm o sério risco de ir à falência. Bem feita! Malvadas! Ao menos estas pílulas são grátis! E curam e tudo!
Seria a ironia suprema uma pessoa engasgar-se numa dessas preces e morrer. Uma daquelas mensagens claras de Deus. Um verdadeiro milagre. Deus simplesmente não gosta de si, amigo! A sério! Uma dessas nem a Igreja conseguia disfarçar… Os caminhos do Senhor assim não seriam tão insondáveis. A opinião do Senhor pelo menos, não. Este "silent treatment" é uma falta de educação intolerável.
Fiquei também a saber, durante este frenesim religioso, que os brasileiros também têm por lá a sua Fátima e o seu milagre. Quem não tem?
Os meandros desse milagre, devo confessar, desiludiram-me, para o que dizem ser o santuário mariano que atrai mais fiéis em todo o mundo. Então a nossa Nossa (ah ah) Senhora aparece em cima de uma azinheira a 3 pastores e a delas faz o quê? É pescada em dois bocados em forma de estátua de um ribeiro qualquer! Quer dizer, nem sequer uma aparição em pessoa? Pelo visto a cabeça e o corpo da estátua de barro, pescados de seguida mas separadamente, encaixavam na perfeição. Uhhhh! Ó amigos brasileiros, a sério, quantas estátuas partidas da Nossa Senhora é que podem estar para ali no fundo de um rio? Se não encaixassem é que era esquisito. E depois disto pescaram muitos peixes. Dantes parece que não dava. E é isto. Grande coisa. Pescar peixes num rio não será exactamente o acontecimento mais impossível de se proporcionar.
Quer dizer, parvoíce por parvoíce mais vale acreditar na mais espectacular…

CHESB