O que é girl porn? Como fazer girl porn? Qual o segredo da Stephenie Meyer? O que raio é o
Crepúsculo? Quem é que faz estas perguntas?
A
girl porn gosta muito de metáforas e adjectivos. A melhor maneira de reconhecer
girl porn é através do sem número de adjectivos e metáforas utilizados para descrever o protagonista masculino. Não só vão ser muitos, como vão ser repetidos tantas vezes, que vamos chegar a perguntar-nos se a autora não sofrerá de deficit de atenção ou de amnésia. É o cabelo que é da cor do ébano e com textura de veludo, 87 vezes. É o peito que é muscular e duro, 143 vezes. É a pele que tem o toque suave de caxemira, 23 vezes. São as mãos que são rijas e grandes mas suaves como a seda, 352 vezes. E por aí adiante. Tão adiante, que após 200 páginas disto torna-se difícil lembrarmo-nos do que quer que seja além da quantidade de vezes que tecidos são usados para descrever partes do corpo. E quanto à personalidade?
Who cares! O peito dele é musculado e duro mas suave como cetim!
Outra das características de
girl porn é a subtil ameaça que o protagonista representa para a protagonista. Entre inúmeros adjectivos e metáforas sobre o aspecto físico do homem, vai sempre haver aquela metáfora fulcral (também essa a ser repetida 1356 vezes) que informa a leitora que o gajo é tão forte, tão forte, tão forte que podia partir a protagonista ao meio, se quisesse. Mas ele não quer, porque ele é um fixe.
Ora esta mensagem é A Mensagem (não que o Fernando Pessoa tocasse nisto com um pau de 100 metros). É isto que é
girl porn meus senhores e minhas senhoras. O domínio físico sobre a mulher. Seja ele subtil ou óbvio, é isto que põe as jovenzinhas e as senhoras de meia-idade todas malucas!
No entanto, é opcional (a não ser que estejam a escrever, por exemplo, uma
Júlia ou uma
Sabrina. E que lindas capas!) a cena da “quase violação”. Vocês sabem de qual eu estou a falar. A tal. Aquela. A fantasia sexual mais apreciada. Essa mesma. “Ai não, não, não! Ai sim sim sim sim!” Não se façam de desentendidos, que eu estou a ver-vos.
Assim sendo, eu divido a
girl porn em dois tipos:
Softcore e
Hardcore. Sei que são as mesmas categorias de pornografia “normal” mas não confundam. A mais
hardcore das
girl porns não chega nem de longe, nem de perto às badalhoquices da pornografia “normal”.
Ora e qual é a diferença entre estes dois tipos de er… literatura (ai, que me ia engasgando), perguntam vocês. Vocês são muito perguntadeiros, já sei. Ora as diferenças são as seguintes: o número de páginas que têm de percorrer até haver sexo e o sexo em si.
Em
hardcore o número de páginas que tem de percorrer até as personagens principais terem sexo é o equivalente a, num filme, dentro de 15 minutos toda a gente ficar nua. Há ali uma certa tensão sexual, sim senhor, mas não é coisa que dure muito tempo. Vai-se logo direitinho ao que é bom, que os problemas vêm é depois, entre inúmeras sessões de sexo. O sexo é bastante descritivo, sendo que uns autores (ou deverei dizer autoras) preferem ser mais descritivos que outros em certas e determinadas coisas. A uns parece-lhes bem dizer “pila” tal e qual e a outros soam-lhes melhor coisas como "bainha de veludo" ou "membro palpitante". Não temam! A
girl porn gosta quando a foleirice encontra a badalhoquice.
Em
softcore o número de páginas que têm de ler até chegarem ao bem bom vai além do que vocês gostariam e o sexo em si muitas vezes é daqueles que se metem na cama e depois fica tudo escuro, como nos filmes. No entanto, apesar de vocês se sentirem frustrados (ou melhor, frustradas) a ler aquilo, não sabem que a razão pela qual estão a gostar tanto do livro é precisamente a falta de sexo e não a abundância dele. É na tensão sexual que reside o trunfo da
girl porn softcore. É pelos “tomates” que a Stephenie Meyer vos apanha. Não é por ela ser mórmon que eles não fazem sexo, é porque arruinava imediatamente o livro para todas as adolescentes borbulhentas a lê-lo. Sexo é sobrestimado. Sexo é para quem PODE fazê-lo. Para quem não pode tensão sexual é muito melhor porque é aquilo que sentem todos os dias! É também esse o segredo para se escrever boa
girl porn, não se andar a TER boa
girl porn. É isso mesmo.
Girl porn é escrita por quem não faz sexo para quem não anda a fazer sexo. Ora aí entra a Stephenie Meyer e o seu
Crepúsculo e todos os outros livros com nomes de fenómenos meteorológicos que ela expeliu. O que esta marota fez foi escrever a sua fantasia sexual e mandá-la imprimir e subitamente todo um monstro de hormonas foi despertado e alimentado pela mesma. Mas qual o segredo dela? Aquilo é a pior literatura cujo nascimento o mundo testemunhou nos últimos cinquenta anos e no entanto a gorda anda a rolar em dinheiro. Será só aquilo que eu mencionei ou algo mais? Serão os vampiros vegetarianos que brilham como diamantes? Serão os partos à
Alien? Se houver algum fã da saga
Crepúsculo a ler-me faça o favor de me elucidar! Até agora o que mais me elucidou foi uma gaiata no
Curto Circuito, da
SIC Radical, que resumiu o filme, baseado no livro, do seguinte modo: “É um vampiro que se apaixona por uma rapariga normal e o filme é todo assim”. Sim. Mais de 500 páginas de “todo assim.” Eles andem aí e brilham.
CHESB