Continuemos então o manual do escritor fantasy. Assim que reunir todos os requisitos mencionados no post anterior é necessário ao nosso herói/na ter uma…
4 - Party – Nope, não é uma festa. É um ajuntamento de pessoas heterogéneo que têm um interesse em comum, usualmente eliminar o vilão após uma extensa e atribulada road trip e menos frequentemente meter-se nos copos e cantar o hino do Benfica todo ao contrário. Na party devem existir:
- O interesse romântico do herói - Um elemento do sexo oposto ao do herói/na (ou não, se quiserem fazer um romance tipo A dança de Pedra do Camaleão. Ou, como não queremos discriminar ninguém, no caso de ser um fantasy lésbico, A dança de Pedra da Camaleoa) Opositor também do vilão por uma razão ou outra (pisou-lhe o horto com o exército enquanto estava de passagem, matou-lhe o Jolie, etc), fisicamente deslumbrante, mas com uma personalidade que o heroí/na tendem a rejeitar ou por ser muito parecida à sua ou porque a tensão sexual simplesmente é insuportável e revela-se na forma de agressividade passiva, de início, e activa posteriormente, ou seja, em português simples, devem andar sempre às turras e até à porrada, porque toda a gente sabe que discutir dá tesão. O interesse romântico deve ser também da classe social oposta à do heroí/na e se quiserem até de uma raça diferente, para aumentar a oposição. Ah mas nada de juntar orcs com elfos hã! Isto não é o Camafeu e a Julieta…
Atenção que existem tratamentos diferentes consoante os casos que relatamos.
Se tivermos um herói o casal vai acabar por se entender porque a mulher arisca e guerreira que rejeita o machismo protector do herói afinal vai acabar a chorar babo e ranho numa situação qualquer em que o herói a vai ter de salvar. Sim, porque toda a gente sabe que as mulheres se armam em boas mas acabam sempre por se ir abaixo e precisar do nosso herói para as salvar. Lá está o machismo encapotado do fantasy. Assim, ao ser salva vai acabar por se submeter ao herói e passar de Xena, a princesa guerreira, a Floribella, a princesa florista e deixar de dar problemas ao senhor que tem coisas mais importantes com que se preocupar como olear a espada e tentar perceber se esteve aquele tempo todo a ler o mapa ao contrário.
Se tivermos uma heroína as coisas passam-se de maneira diferente. O antagonismo continua a existir mas porque o rapaz tem relutância em aceitar a liderança de uma mulher que se depila e ela relutância em aceitar conselhos de um gajo armado
Cá está: submissão versus colaboração. Não esquecer.
Ah e muito sexo, a toda a hora e nos sítios mais esquisitos. A falta de banhos não é problema. Quando a vontade bate...
Depois de estabelecido o interesse romântico entramos numa rotina tipo Uma Aventura. Lembram-se desses livros? Claro que sim! Quem não se lembra de João, Pedro, Chico e…como é que se chamavam mesmo as gémeas? Bem, não interessa.
Ou seja, sendo assim, temos…
- A força bruta – O Chico era a coragem e o braço forte do pequeno grupo de detectives borbulhentos. Está lá para usar um pé-de-cabra, arrombar portas e meter-se em frente de pistolas sem pensar nas implicações que isso poderá ter na chegada iminente da sua morte. Está lá para fazer, não para pensar. Porque para isso está lá o heroí/na. Este membro do grupo poderá ser suprimido muitas vezes pois é preenchido ou pelo herói ou pelo interesse romântico da heroína. Quando isso acontece fica a cargo do ladrão dar arrotos e peidos e dizer asneiras para o entretenimento de toda a gente.
- O inteligente – O Pedro era a inteligência do grupo. Estava ali para avisar as pessoas de que 2+2 pode não ser sempre 4 dependendo dos logaritmos e do contexto em que a operação ocorre, pesando sempre a influência da função X.
Ou algo assim. Eu sou de Letras, não me recriminem.
Tendo em conta que a inteligência do heroí/na é mais esperteza do que outra coisa, este membro será de vital importância pois descobrirá muitas vezes a solução para os problemas mais complexos e certificar-se-á de que as finanças do grupo não arranjam para ali um défice, que isso mata.
Para além disso é o comic relief guy atirando para o ar piadas e fazendo malabarismos com garrafas de querosene e fósforos acesos quando o livro está mais parado.
- O sábio – No caso do Uma Aventura o Faial era claramente o sábio. Os pastores-alemão são animais com muito bom senso e muito boas baby-sitters. O sábio não é o mais inteligente mas sim, como a palavra indica, o mais sábio, obviamente. Normalmente é alguém que já passou da idade ou elfo, esses então são tão sábios que irritam qualquer um. Está no grupo para garantir que as atitudes mais sensatas são tomadas, dar lições de vida muito profundas baseadas na sua experiência, citar escrituras que ninguém conhece e decifrar profecias negras, avisar quando os pacotes de batatas fritas estão quase a passar da validade e mandar para o ar, de vez em quando, que no tempo dele o azeite era mais barato ou contar daquela vez em que foi para trás da palhota com a prima com os girassóis a espreitar e um dia lindo para passear...
E por fim…
- O sarcástico – O elemento relutante do grupo. A sua utilidade é por vezes obscura mas não temam que eu estou aqui para tudo explicar. O sarcástico está no grupo para fazer o herói parecer melhor do que aquilo que é. Um contraste nas linhas de “do mal, o menos”. Ao pé de uma bicicleta até o carro mais velho parece interessante. Ao pé de um corcunda, um bexigoso não parece assim tão mal. Ao pé dos Morangos com Açúcar a New Wave parece uma escolha sensata. Isso não quer no entanto dizer que ele não possa ser mais sexy que o herói. O herói é fofo, o sarcástico é sexy. O sarcástico é o homem sexy por excelência. O perigo, a violência, grrrrrr… Bem, já me distraí.
Portanto, o sarcástico é competitivo, é de moral duvidosa, não é hipócrita, etc. Assim normalmente tem mais duas funções: dizer aquilo que toda a gente está a pensar (incluindo o leitor), ou seja é o agente do humor negro, e ser o suspeito principal quando alguma coisa corre mal. Isso e fazer o herói perder as estribeiras.
Com a sua moral duvidosa nunca é claro se mais tarde ou mais cedo não vai saltar para o lado inimigo e matar todos os outros membros do “gang” enquanto dormem. Mais tarde acabam por descobrir que afinal é o mais bonzinho deles todos, ajudando alguém que todos se recusaram a ajudar e que a sua hostilidade é só resultado de uma infância difícil, de uma mulher promíscua ou um caso de herpes genital mal resolvido.
CHESB
3 comentários:
Bem, eu li o primeiro volume da "Dança de Pedra do Camaleão", tenho-o em casa até, mas não creio que seja um livro lésbico. Onde é que descobriste isso? É que se assim é, então eu, mais uma vez, não reparei.
Xena é potente, é potente... Qual é o homem que não gosta de ver uma gajinha arrear uns bons pataiços e carícias supersónicas nuns tipos armados em carapaus de corrida?
Tens razão, o Faial está para o "Uma Aventura" como o Gandalf está para o "Senhor dos Anéis".
Espectacular! Tens talento para isto, devias de escrever ou fazer disto um livro a sério. Espero ansiosamente pela terceira parte.
Este rapaz ñ compreende nd do que eu digo... A dança de Pedra do Camaleão é tudo menos lésbico :p É precisamente o oposto.
CHESB
Ó CHESB, o que faria eu aqui sem ti!
(Continuo a dizer que a Xena é potente e a Buffy também. Para quando o seu regresso à televisão?)
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