terça-feira, junho 14, 2005

Caro e respeitado Sr. vizinho do andar de baixo

Caro e respeitado Sr. vizinho do andar de baixo, escrevo-lhe esta missiva num ataque cego de fúria. Estou furiosa.
Espero que não a interprete de forma errada, como uma ameaça ou assim, nada disso! Também não pretendo com o presente bilhete alterar de qualquer forma a nossa relação cordial de cumprimentos e comentários agradáveis sobre o tempo quando vamos no elevador ou quando nos cruzamos à porta do prédio, mas de facto estou demasiado fora de mim para ligar às aparências. Tenho de lhe transmitir o que me incomoda.
Perdoe-me, mas penso que a sua conduta das últimas duas semanas é absolutamente intolerável.
Eu ainda tentei amenizar a situação ofertando uma cestinha de biscoitos caseiros na Segunda-feira, mas ficou tão perturbado com os amendoins a que era alérgico que não pudemos ter uma pequena prosa.
Então, sem mais rodeios, aqui vai o que lhe quero pedir: meu caro e respeitado Sr. vizinho do andar de baixo, a quem eu muito admiro a forma viril com que retira os sacos das compras da sua bicicleta de alta cilindrada, por favor liberte o meu marido.
Eu bem sei que ele o foi importunar acerca daquela pequena confusão do correio, mas a verdade é que o Sr. não devia ter dado a nossa morada para receber aquelas encomendas da sex shop. Compreendo que seria inconveniente recebê-las em sua casa com a sua mãe idosa, mas o meu marido ficou um pouco importunado quando o Sr. oficial dos correios pediu a assinatura da encomenda.
Apelo à sua razão: isto não tem de ser o fim das nossas relações, por favor liberte o meu marido.
Não sei como é a alimentação que lhe está a providenciar, mas é que ele é diabético e precisa de seguir uma dieta rigorosa.
Anexado a esta missiva vai uma lista do que ele pode ou não comer; umas quantas seringas de insulina (só para prevenir) e outra cesta de biscoitos, desta feita de chocolate!
Espero que o meu marido não esteja a incomodar muito. Por favor liberte-o.

Respeitosamente despeço-me com os meus melhores cumprimentos:
Sra. Santos
P.S. ainda sou Sra. Santos certo? O meu marido está bem, não é?
Cc- a gaja da conspiração

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