quarta-feira, outubro 19, 2005

Are you talking to me? Are you fucking talking to me?

Alegadamente o grande sucesso da série da TVI, Morangos com Açucar, reside no facto de ser verosímil (uma palavra erudita para desculpar a enxurrada de caralhadas que aí vem). Não acho. É que nem de perto, nem de longe. Ignorando por hora o facto deles serem todos ricos, lindos e filhos de professores, vamos debruçar-nos sobre um aspecto linguístico desta suposta série realista.
Que raio de verosimilhança (as compridas também servem) é esta onde não nos aparecem os amigalhaços a chamarem-se nomes uns aos outros? Qualquer jovem sabe que, amigo que é amigo, não nos trata plo nome próprio mas sim por uma alcunha completamente horrível que odiamos/ nomes obscenos/ diminutivos idiotas. Aqui entre o K1111 não existem cá mal criações dessas de andarmos a chamar o nome que as nossas mãezinhas nos deram, umas às outras. Aqui é tudo na base do “Oh vaca!”, “ parvalhona!”, “cabra de merda!” e “puta do caralho!”. É campónias, xús, dejentas e baixinhas! É tudo na base da boa educação! Tudo na base da amizade!
Esta gente dos Morangos Com Açúcar não enceta diálogos normais, pá. Leiam os meus caracteres. Não – enceta – mêmo! É terrível!

Observem a comparação entre os casos da vida irreal como tudo e os casos da vida tão real que até dói:

Morangos com açúcar:

- Olá! Tudo bem contigo?
- Tudo bem! Então mais logo vamos ao bar do Fred para tomarmos qualquer coisa?
- Ao bar do Fred? Que boa ideia! Claro! A que horas?
- Não sei… O que é que achas Maria Albertina? (o qué?! Não me lembrei de mais nenhum nome…) Que hora sugeres?
- Às 11. O que acham?
- Sim, claro, está optimo. Então às 11.
- Até logo.
- Adeus


Vida Real

- Olhem lá, tão com é que é? (no caso dos rapazes o cumprimento é substituído pelo habitual soco/ empurrão/brincadeira física idiota.)
- O quéque foi agora?
- Hoje vamos sair?
- Eh pá, sei lá, pá! OHHHH GAAAAAJA! (no caso dos rapazes seria gordo/careca/caixa de óculos/camafeu/cajó/ zarolho/argentino ou um outro tratamento completamente inusitado.)
- O QUE É PÁ?!
- HOJE VAMOS SAIR?
- HÃ?!
(aproxima-se a gaja, que podia muito bem ser um gajo.)
- Hoje sempre vamos sair?
- Ya pode ser…
- Aonde?
- Qualquer sitio.
- Qualquer sitio não que a gasolina tá cara, caralho.
- Olha atão escolhe tu!
- Logo se vê, pá! Ai vocês também!
- Vocês não! A que horas é que agente se encontra?
- Epá não sei…
- Epá que merda também não sabes nada! Olha é às 11. Quem tiver tá, quem não tiver…
- Espera-se até à 12! Que eu só tou despachada lá pa essa hora…
- Prontos… entre as 11 e as 12, na minha casa… vá, xau. Ah e não é cá às 3 da matina hã, como da outra vez!
-
Epá vai pó cacete pá!

(cores usadas para distinguir os vários intervenientes, como o esperto leitor já deve ter reparado. Só para o caso dos nossos leitores não serem espertos.)

Conseguem encontrar as 7 diferenças? Até parece que somos todos filhos de pais ricos e frequentadores de country clubs com este linguajar civilizado, de quem está falando com a Rainha Vitória e não com os nossos amigos íntimos, que merecem toda a nossa sinceridade (e que, ao contrário do que o ditado diz, não se escolhem e são bem piores que a família, porque com essa ao menos estamos resignados à ideia de que temos mesmo de levar com ela. Os amigos são como as carraças. Entram-te debaixo da pele e quando vais a ver já te subiram até à espinha e aquilo para desalojar é pior que um estilhaço de uma granada da guerra do Vietname.)

CHESB, é isso mesmo que estão a pensar, a gaja que tem uma panca muito séria com os Morangos Com Açucar que nunca lhe fizeram mal nenhum. E depois? HÃ?!

3 comentários:

Anónimo disse...

n percebo nada disto!

K1111 disse...

É natural... sempre fui uma escritora incompreendida... CHESB

Anónimo disse...

Tenho uma dúvida: existe alguma verosimilhança daquilo com qualquer outra coisa? Aqueles gajos parecem saídos do manicómio! Quanto às carraças, tens razão e olha que eu tive um vizinho inglês com um estilhaço num olho da Guerra do Vietname! Morangóides? Foooooniiixxx!