Será que vocês conseguem adivinhar o que é que o K1111 teve a coragem (e indecência) de ir ver numa bela sexta-feira à noite? Será? Não me parece. Até porque se conseguissem isso significava que a casa tinha um prestígio de -5.
Twilight. Crepúsculo. Aquele do livro? Esse mesmo. Foi esta a maravilhosa obra cinematográfica que nos aventurámos a visionar. Aventurámo-nos não será bem a palavra. Será mais “não tínhamos nada para fazer, deixámos a curiosidade e o mui bem apessoado protagonista, da nossa tenra idade, nos convencer que dava para aguentar qualquer parvoeira mais parva ”. “Hormonámo-nos”, portanto. (Há que registar esta palavra na Academia Real de Ciências imediatamente não acham?) Afinal de contas, também somos filhas de Deus.
Antes de mais quero deixar aqui um esclarecimento à realizadora do filme e quiçá também à autora do livro e ainda a todos os/as jovens que idolatram ambos: ser bipolar é ter uma doença do foro psiquiátrico, não uma forma inovadora de ser
sexy. Quando esta biporalidade emana de um protagonista masculino que, ainda que brilhe como uma deliciosa sobremesa de diamantes, afirma, vezes sem conta, que anda cheio de vontade de devorar a sua amada (e NÃO, não é no bom sentido), que o pode fazer a qualquer altura, não se cansando de lhe fazer demonstrações inesperadas e inusitadas da sua horrenda superioridade física nos materiais em redor dele e da sua instabilidade mental, que anda ali entre bipolar e psicopata, este “
sexy” torna-se ainda mais bizarro e assustador.
Big fucking flashing warning, I say!
Mais estranho que isto, só mesmo o facto de quanto mais ele se torna assustador e ameaçador, mais a protagonista insiste na sua paixão por ele. Ele grita-lhe. Ela ama-o. Ele ameaça-a. Ela ama-o. Ele persegue-a. Ela ama-o. Nem o facto de ele confessar que já matou outras pessoas leva a nossa protagonista a duvidar por um segundo da sua adoração!
- Assassino? Por favor! Já tive namorados bem piores! Só de me lembrar daquele tipinho que, quando eu lhe telefonava, me dizia que estava na casa da mãe e afinal estava era no bowling com a Susy…
Já o facto dele não a tornar em vampira, não a querer ao pé dele ou não a querer beijar, chateia-a imenso. Já para não falar daquele olhar esbugalhado, que deixaria o Ted Bundy orgulhoso, que ele lhe está sempre a mandar. Mas isso até a mim me chateia. Mas talvez me chateie mais o homicídio, o canibalismo e estar em perigo de vida. Prioridades. Há que respeitar a diferença e eu não quero ser como essas pessoas intolerantes, que por aí andam, a exigir sanidade, senso comum e até coerência.
Ora adiante, e passando à frente das assustadoras e constantes piadas entre a família vampírica sobre o facto de ela ser “comida” para eles (e estes eram os bons hã…) e dos efeitos especiais produzidos por crianças de 6 anos, dá-se finalmente, depois de hora e meia de melodrama bipolar, a fase do namoro, dito, normal.
Desta parte eu não me lembro de muito, confesso, com excepção de uma entrada triunfal do casal no liceu, em que o rapaz, com uns belos óculos de sol, por uns segundos, parece aquele tipo com que todas as meninas da secundária queriam andar e em que nos vemos envolvidas numa cena retirada dos nossos sonhos pré adolescentes mais selvagens. Mas isto são meros segundos. Depois ele volta a ser o actor excessivamente maquilhado, com mais batom que a protagonista e com os olhos, constantemente, em modo “besugo mal morto”.
Chegamos assim a outro dos problemas da malta vampirizada desta produção cinematográfica: olho de besugo aterrorizado. Ênfase no aterrorizado.
O clã de vampiros, ainda que apresente belos espécimes Nosferatu, parece andar convencido que uma alma em conflito, carregada de intensidade emocional, se traduz num estado constante de… espanto.
Longe vão os tempos em que a intensidade dramática era transmitida por um semicerrar de olhos carregado de tensão. O que está a dar agora é o besugo mal morto aterrorizado. Isto, embora à realizadora possa parecer boa ideia, a nós só nos faz rir até fazermos chichi nas calças e isso é coisa que em locais públicos é algo desagradável de se ver.
Eu, que tinha no topo da minha lista de “piores vampiros de sempre” o Tom Cruise, como Lestat (
The Second vampire! O
The One é o Drácula, obviamente) em
Entrevista com o Vampiro (se não conhece vá-se cultivar, seu ignorante) tive de o destronar, lamentavelmente, e comprar um divã (daqueles grandes) para instalar, nesse mesmo lugar, toda a família Cullen. Sem excepções. Se houvesse um cão vampiro Cullen também lá estava. Mas não deve haver, porque eles devem ter comido todos os animais de estimação que tinham com aquela cena do "vegetarianismo". Confusos? Também eu e não foi por isso que morri.
Depois de uma lenga-lenga qualquer, chegamos finalmente ao clímax do filme. Aqui fica tudo, se impossível parecia, ainda
mais estranho. Depois de duas horas que podem ser descritas, no seu melhor, como algo em tons de lavanda, chega o confronto final e aqui, meus amigos, a autora passou-se. É raparigas a voar, pernas a partirem-se, pedaços de vidro gigantescos a cravarem-se em pernas já partidas, desmembramentos seguidos de queimada e alimentação vampírica que mandou para o ar o
sexy e acolheu o nojento e perturbador de braços abertos! Em 10 minutos vemos mais sangue do que num filme inteiro do
Saw.
Imaginem então como vão ser as cenas dos filmes seguintes...
E é pensando nisso mesmo que vos deixo as seguintes pistas: Cesariana. Dentes. Estripamento. Espinha. Sangue. Costelas. O milagre do nascimento.
Montem qualquer coisa gira na vossa cabeça com isso e ofereçam a uma criancinha pelo Natal.
CHESB