terça-feira, março 15, 2005

Atendimento Hospitalar

Ora meus amigos, não podendo deixar passar ao lado o fantástico discurso algures da minha colega - a gaja da conspiração - à cerca do atendimento hospitalar e a vida hospitalar em geral e já que tamos numa de críticas, decidi falar da vida em clínicas ou em consultórios de médicos especializados.

Tudo começa quando chegamos à clínica. Dirigimo-nos para o balcão, onde uma senhora está ao telefone ou a mexer no computador ( e quando são as duas acções juntas nem se fala ). Depois ela lá parece aperceber-se que o people tá ali à espera já há 2 horas e lá mexe a cabeça como a perguntar "O que é que queres, pá? Uma pessoa tá aqui a jogar ao solitário e depois aparecem estes empecilhos. Irra..."
Prontos, a gente lá lhe dá um papel ou dizemos a que vimos e a mulherzinha lá balbucia qualquer coisa que nós não percebemos, por isso pedimos para repetir. É então que a gaja olha bem para a nossa cara, com aquele ar enfadonho de carneiro mal-morto, aponta-nos (não é uma arma, embora não falte muito) umas cadeiras mal estofadas e diz bem alto: "Espere um momento."
E o "se faz favor", já não se usa? E sim, um momento. A gente sabe como são estes "aguarde". Bem, adiante...
Quando nos aproximamos da cadeira, as pessoas que já estavam na sala de espera parecem deixar de viver só para nos observar. As conversas param, toda a gente nos olha de alto a baixo a querer adivinhar qual é a nossa doença. Se tentamos esboçar um sorriso, olham-nos de lado, porque se tu sorris é porque não tás doente. Então é a pessoa que te acompanha. Mas naquele momento tosses. Ah, pensam, então é a miuda que tá doente. Embora continue a ser estranho, segundo eles, o meu sorriso. E quando nos sentamos tudo volta ao normal como se nada tivesse entrado naquela sala.
Pois é e já alguma vez experimentaram, depois de se sentarem, observar as pessoas que estão à nossa volta de forma mais particular?
Eu já e confesso que não é a melhor coisa do mundo. É que para além daqueles queixumes e apreeensões que a gaja da conspiração tão bem referiu (Vivô ela!), também se deve notificar o berreiro constante dos bébés, das mães a gritarem para que eles se calem, sem perceber que se os filhos tão a fazer barulho é porque não dormiram nada com a festa mister cueca molhada que ela organizou em sua casa a noite passada. E os palpites e soluções fantásticas que as velhas que estão à voltam teimam em dar para que a criança recupere dessa onda de lágrimas e do mar de ranho que libertou?
Depois são aquelas crianças que, pois claro, estão quietinhas mas com o dedo no nariz e depois a colar os seus dejectos nas cadeiras.
Ou então, ainda aquelas crianças que andam a correr de um para o outro, a mãe berra "Cátia Vanessa anda já aqui!", a miuda não obedece, a mãe berra outra vez "Cátia Vanessa, pára quieta!" - não é fantástico este português? - a miuda continua a fazer orelhas moucas, a mãe levanta-se da cadeira com violência, vai buscar a pita, dá-lhe uns quantos tabefes, a pita fica ali no chão a berrar e a mãe volta para a sessão da má língua com aquela tia, prima ou vizinha afastada, que sempre acabam por encontrar nesses consultórios. E a miuda continua a berrar estendida no chão.

(o maravilhoso mundo dos hospitais, continua... não percam o próximo episódio, porque nós também não!)
Xúphia

1 comentário:

paulo disse...

retrato fiel do ambiente dos hospitais e consultórios espalhados por Portugal. só faltou mesmo a descrição das velhas que passam à frente das pessoas e depois dizem que não viram ninguém. ao menos sempre se fica a saber que têm problemas de visão...